A colcha de retalhos,
cosida pela minha mãe,
Protegia-me do frio e das muriçocas impertinentes.Era uma belíssima peça artesanal.
Logo após acordar, enroupado apenas com um calção,
Também cosido com sobras de tecido,Corria a inspecionar meus tesouros,
Frascos vazios de desodorante (que logo se transformariam em robôs lúdicos).
- Venha tomar café menino!
Bradava minha mãe.
À mesa, jogava migalhas de pão ao senhor Jhones.
(meu amigo imaginário que morava na companhia de dois
leões sob a mesa de jantar).
Do lado de fora, no quintal,
Punha-me a fabricar mais bonecos.Agora produzidos com cabos de vassouras velhas e tábuas recolhidas de caixotes de madeira.
À tarde montado em meu alazão, (uma velha vassoura de
piaçava).
Rodeava o tanque, (reserva d’água, privilégio de poucos
na Vila Cardeal e Silva).Transpondo os obstáculos da pista de hipismo, que eu mesmo montara.
Competia, com adversários fabulosos, até o entardecer.
- Venha tomar banho menino!
Ralhava minha mãe novamente.
Embaixo do chuveiro travava sôfregas batalhas, munido com
minha pistola a laser.
(Outro frasco vazio de desodorante).Como eram úteis esses frascos.
À noite, após o
jantar,
Entrava em minha
nave espacial.(Um velho banco de madeira, habilmente construído por meu pai).
Dispunha o banco de cabeça para baixo,
Fechava as laterais com um lençol,
E através de comandos “sofisticados”,
(Tampas de garrafas pregadas no tamborete),
Partia em audaciosas jornadas.
Após um pouso preciso, dada a grande perícia do piloto, e
exausto de tantas aventuras.
Mergulhava em minha cama e me deixava envolver no
aconchegoDe minha velha e colorida colcha de retalhos.
Autor: Sérgio Ricardo
Um comentário:
Mais um texto lindo! Que venham muito mais, e que em algum eu esteja presente... Será que consigo esse presente? Beijos.
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