Hoje 25 de março precisamente às 15h48min. me veio um
pensamento forte do meu Pai.
Já escrevi sobre tantas coisas, mas nunca escrevi sobre o
meu Pai.
Diz o ditado: “Quem canta os seus males espanta”. Penso que acontece o mesmo com quem escreve, e hoje escrever eu preciso.
Diz o ditado: “Quem canta os seus males espanta”. Penso que acontece o mesmo com quem escreve, e hoje escrever eu preciso.
Meu pai era um misto de homem rude e doce, na verdade mais
rude do que doce. Tenho poucas recordações de suas gentilezas e de carinho
então, nem se fala. Seu nome exercia
poder na vila onde morávamos, todos o respeitavam por ser um homem
trabalhador e honesto, não gostava de dever nada a ninguém, exemplo a ser
seguido. Lembro-me bem do orgulho que eu sentia em dizer que era sua filha. Em
casa tratava os filhos com pulso forte, nada passava despercebido, a qualquer
deslize já ralhava e batia com o cinto ou com a chinela ou com o que tivesse na
mão e se nada tivesse batia com a própria mão. Não media as palavras tampouco as
pancadas. E eram as palavras o que mais doía... Minha pouca idade não me deixava compreender o
porquê de tanta ignorância.
O desejo de ter um pai amoroso era tão grande que uma cena
carrego até hoje na minha memória: Ainda
pequena mais ou menos uns 8 anos, fui comprar pão na venda no final da tarde e
lá encontrei um homem todo sujo de graxa com um menino no braço, ele colocou o
menino no balcão com todo carinho, apontava mostrando as coisas e beijava a
cabeça de seu filho, só depois fez o seu pedido. Um desejo forte invadiu todo o
meu ser: Esse era o pai que eu queria ter...
O tempo foi passando, eu fui crescendo e muitas coisas
aprendendo. Conheci a história de vida do meu pai e da mesma forma que não tive
um pai amoroso, ele também não teve, só que essa era a única coincidência entre
nós, pois diferentemente de mim, que sempre tive um pai presente (da sua maneira...), ele perdeu seu
pai muito cedo, ainda menino, e precisou trabalhar para ajudar a sua mãe a
sustentar o restante da família. Meu pai não teve infância e nem adolescência.
O menino mesmo sem querer transformou-se em homem com responsabilidades e
deveres, a vida foi bastante dura com ele, não teve condições de estudar, o
pouco que sabia foi ensinado mais tarde por minha mãe. Muito esperto fazia
cálculos na cabeça como ninguém. Conseguiu com muito esforço construir a sua
própria casa, a casa de número 6, a mais bonita de toda a vila. E cada dia mais
detalhe eu conhecia de sua vida e foi
assim que comecei a entender um pouquinho, mas só um pouquinho, a sua
incapacidade de demonstrar amor, e toda a mágoa que eu sentia por ele começou a
diminuir até só existir compaixão.
Compaixão. Foi esse o sentimento que senti em sua velhice.
Sua morte foi uma passagem tranquila. Estávamos em paz! Eu e meu Pai.
Miriam Albuquerque
25/03/2014
25/03/2014